sábado, 28 de fevereiro de 2009

Rascunhos para o ano novo

Deve ser a proposital a idéia de alguém fazer o calendário tão curto. Eu acho curto. Se bem que, todo ano é mesma coisa: quando a gente vê, ele já está acabando. Ou iniciando, depende de como você encara. Já que estamos todos em Janeiro*, olhemos para o início. É normal nessa época fazermos vários tipos de contas. Várias. Não estou falando das contas rotineiras que todo pai e mãe de família tanto se preocupam: a matrícula da faculdade dos filhos, o IPVA, a conta do cartão de crédito das compras do final de ano. Não, não. Estou falando de uma contabilidade talvez até mais complexa: o tempo vivido. É sim, pode confessar que você faz esse tipo de conta. Todo mundo faz.

A gente começa a ver por exemplo, mês a mês tudo o que fizemos. Lembramos das chances aproveitadas, de outras tantas perdidas. Daquele amor que veio e que tão logo se foi (ou pra sua sorte, não!). Das noites mal dormidas e das bem acompanhadas. De preocupações fúteis e das mais sinceras. O carro que era novo e agora já grita um risco feio na traseira. Na academia de dança e da coragem criada pra dar seus primeiros passos. Conquistas pessoais que você vibrou sozinho, sem ninguém saber. E também aquelas que muitos ficaram sabendo. Ah, a mente não nos deixa esquecer das pessoas que fizemos chorar e das que choramos madrugadas a fio. Quantas você fez chorar, por quantas chorou? Que cruel esse mês.

Talvez tenha sido um ano onde você tenha aprendido a amar. É. Talvez tenha amado pela primeira vez de verdade. Em contrapartida (já utilizando as novas regras gramaticais), talvez tenha descoberto que o amor acaba. E aqueles pés juntos num sofá e as milhares de fotos tiradas nem estão contando tanto assim agora. Talvez olhando pra fotos, tenha se visto uma criança depois de anos. E isso, convenhamos: é bem lindo.

Também fez amigos. Se não muitos, então uns poucos tantos, mas “bãos” pra caramba. Daqueles que não ligam a mínima se você fizer o passinho da Macarena no meio da pista de dança. Confidências trocadas numa piscina, amizades que voltaram do nada e que do mesmo jeito se foram, erros assumidos (outra coisa linda) e muitos omitidos pelo medo da reprovação.

A graça da vida está aí.

O significado do "feliz ano novo" não está simplesmente no desejo de que tudo corra bem em nossas vidas no ano vindouro. Apesar de este ser o nosso maior anseio, ninguém está assegurado dos trancos e barrancos que a vida nos dá dos quais muitos deles tem alturas muito grandes. Não vejamos isso de uma forma negativa ou pessimista. Muito pelo contrario. O balanço do fim de ano só tem sentido quando constatamos que tudo aquilo que passou foi o resultado de nosso esforço na busca pela nossa felicidade. É uma busca complicada eu sei. A estrada que leva a ela na maioria das vezes não tem mapa, encontramos diversas encruzilhadas, cabendo esperar da sorte (ou seja lá o que acreditamos) que tome o rumo certo. E nesse caminho, a gente vai encontrando alegrias, frustrações, desafios. E tudo no plural pra ser mais emocionalmente.

E definitivamente, de uma vez por todas e cá entre nós: já deu, chega das tão famosas perguntas e indagações: Sou bonito pra ela? E se eu ficar gorda? Estou velha demais pra isso? Repito: CHE-GA. Quebre o espelho se ficar gorda, namore um míope se estiver se achando feia e case com um outro velho se achar que já passou da idade. Se sentir-se chato às vezes, peça pra alguém te fazer cócegas, se alguma vez ficar rouco peça pra ela ficar surda um pouquinho. E principalmente e talvez o ideal para 2009: estando triste, contrate uma palhaço pra te fazer rir. Pague hora extra se precisar.

Flexibilidade, palavra bonita até de ler. E fica linda dentro da vida.

Faça outras perguntas este ano. Questione-se quando vai trocar de carro e não como. Quando vai pedir perdão, ou dar essa graça pra alguém. Quando vai ser mais sincero, ou encarar aquele trabalho de voluntariado que há anos te aponta na cabeça? Esse ano a tatuagem vinga? Quando vai cantar, escrever, viajar ... quando vai ousar? Quer saber de algo bom: não faça tantas perguntas, responda mais. É até mais fácil. É coragem. Ah, pare de reclamar. Dá um fruto que é uma beleza.

E nunca, nunca mais pense que o que parece longe agora não pode ser seu. Isso é uma mentira que alguém inventou lá trás e deve ter ganho muita grana, vendendo sonhos. Apesar disso, sonhe, porque a mágica está no produto. E nas batalhas, meus queridos, sejam elas quais e quantas vierem, enfrente-as. Em parte, a guerra já é vencida assim. Ainda que a tempestade hoje seja grande, a bonança não demora. Nunca. Como diz o Arnaldo Jabor, “bom mesmo nessa vida, é ter problema na cabeça, sorriso no rosto e fé no coração”. Depois me conte.

Um feliz ano novo pra você.

*Escrito em Janeiro

Nem vem.

Não gosto quando a gente fica falando assim no que não foi, no que poderia ter sido. God! Não aos sábados, principalmente à noite. Não hoje, por favor, hoje não dá, eu tenho. Eu tenho uma sensação meio de amargura, de fracasso. Você me entende? Como se tivesse a obrigação de ter sido, ou tentado ser, outra pessoa. E mesmo que nenhum dos dois tenha tido culpa (e não temos, tentamos) é como se tudo o que o maldito destino escreveu ficasse pior. Então, por favor ... chega disso baby, vamos ler um livro e rezar pra que um beija-flor apareça.

"Eu tenho amigos por toda parte. Na praia, cinema, teatro, favela. Amigo jornalista, garçon, vagabundo. Meu negócio não é somar, é multiplicar. Sozinho não dou conta. Eu ando em bando, camuflado, descarado, fazendo festa. O tempo inteiro me sinto em casa no meio da rua, na madrugada, na multidão. EU SOU DA TRIBO DO ABRAÇO"

Só podia ser Cazuza.